domingo, 18 de janeiro de 2009

meu diarinho de guardanapo no trem belga

"Meu dia ainda não deve ter acordado direito às 8 da manhã com um frio de -17 graus numa cidade cinza dentro de um trem. E os demais passageiros parecem estar com tanta saudade das suas camas quanto eu do meu nórdico salmantino de plumas de pato branco.

Uma menininha
de 3 anos (suponho), cabelo branco (isso está além de loiro), casaco-gorro-luva-vestido-meia-sapatilha-e-bochechas cor-de-rosa deve ter notado meu indisfarçável tédio aqui dentro e está querendo arrancar alguma reação de mim. Impossível não conseguir. A coisa mais fofa do mundo cantando musiquinhas indecifráveis em flamengo. É muito engraçado uma coisinha tão pequenininha e com uma vozinha tão doce saber pronunciar tão bem esses sons estranhos desse idioma estranho. Ela pensa que eu tô entendendo tudo. 'Sberg?', perguntou. Eu sorri. E ela respondeu: 'Monamonamona', cantarolando e balançando os fiapinhos loiros na cabeça. Facílima a comunicação."

O espaço no guardanapo acabou e eu não escrevi mais nada. E ela tomou da minha mão, junto com a caneta, e rasgou sem querer. E ficou preocupadíssima com o rasgão que fez no papelzinho que deveria servir para eu assoar meu nariz. E ficou tentando juntar as duas partes rasgadas. E buscou ajuda com a mãe, que sorriu e me pediu desculpas pelo acidente com o guardanapinho.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

declaração de repúdio à ryanair

Ryanair = pau-de-arara voador.
É só um desabafo, me sinto mais leve assim.


Aliás, já que entrei no assunto... Explicação para o foto das passagens custarem a bagatela de 1 euro: durante o vôo, os comissários de bordo viram expositores dos produtos do 'Mr. Ryan'. Acontece uma feira dentro da aeronave. Perfume, relógio, cachecol, maquiagem, quitutes, souvenirs ... É só escolher. Mas custa caro, e nem vale pechinchar. Imaginem o prejuízo numa turbulência.

domingo, 23 de novembro de 2008

ça c'est paris

Meu próximo objetivo é descobrir como surgiu a conversa de que franceses são frios e estúpidos. Parisienses são as criaturas mais gentis, doces e elegantes que podem existir. Bonjours a cada esquina; sorrisinhos no canto da boca; andar leve, quase flutuando; casacos, bolsas, sapatos; 'ça va?' ... "Quero vir morar aqui e ter aulas de charme e elegância com eles" - decidi assim que desci do primeiro metrô.
O parisiense deve estar à parte da França, se não, dizer que franceses são grossos é a qualificação mais falsa e injusta já disseminada pelo mundo.

sábado, 15 de novembro de 2008

prévia para os próximos quatre jours à paris

No ano passado, durante o período das eleições presidenciais da França, achava um charme o conservador Sarkozy. E para os socialistas, a Ségolène Royal era a classe e elegância em pessoa - ela é, de fato. No meu mundo perfeito, os dois adversários formariam um casal très chic. Acontecia que eu e minha ingenuidade achávamos a senhora Royal feminista demais para todo o conservadorismo do Sarko. O romance dos meus sonhos não poderia virar fato.

(...)
Sarkozy foi eleito.

Se divorciou da mulher e então primeira-dama. Assumiu caso com a lindíssima Carla Bruni. Casou com a moça. Ela lançou o terceiro CD com músicas dedicadas ao marido - numa delas, a nova primeira-dama-mais-charmosa-impossível diz que teve '30 amantes'.

E o conservador era o Sarkosy. (como fui boba)

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

coisinhas do primeiro mundo

São três da manhã e nesse exato momento, do meu quarto, escuto um barulho de motor vindo da rua. Sei do que se trata e me dá arrepios só de lembrar. Meu incômodo não é pelo barulho, até porque isso não é nada comparado ao caos sonoro de Fortaleza a qualquer hora do dia ou da noite.
O som do motorzinho vem do carrinho da limpeza do Ayuntamiento de Salamanca. Trata-se de uma engenhoca parecida com um trator que sai sugando tudo o que estiver no caminho por onde passa (inclusive seres humanos já quase foram vítimas). Depois de concluído o trabalho de sucção, vem o inexplicável: o carrinho sai jorrando água pelas ruas que já estão impecavelmente limpas! E ele é tão neurótico com a limpeza da cidade que até em baixo de chuva e nevoeiro a maquininha permanece com seus jatos d'água apontados por todos os becos. O serviço é diário!
Ainda que possa se tratar de água reaproveitada, não deixa de ser desperdício de água reaproveitada ... !

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

na europa

Se não existe um porteiro pra noticiar à vizinhança suas aventuras com o ex, atual e com quem poderá ser seu futuro namorado, ou se não existe uma vendedora que vire sua melhor-amiga-levanta-auto-estima durante os três minutos em que você permanece na loja, ou se na fila do banco você não descobre todas as angústias e conquistas do primo-segundo da velhinha que está na sua frente ... o europeu é chamado de 'frio e sem coração' pelo brasileiro. E por tudo isso ser corriqueiro no Brasil, seu povo é 'caloroso e acolhedor'.
Na Europa, não se sabe da vida do vizinho, sequer se sabe o nome do senhor do bar da esquina onde você vai toda sexta-feira à noite depois do trabalho. Lá no bar, o senhor também não sabe que o que te faz ir ali todas as sextas é a saudade da sua namorada. Pra ele, não interessa. Interessa que você beba três cervejas e pague pelas três, sem conversa, sem fazer "três por duas", porque se, por engano, ele cobrar quatro, no minuto seguinte ele se sente o pior caixa do mundo e, envergonhado pelo serviço mal feito, pede desculpas sem sorrisos e devolve o dinheiro. Porque na Europa ele só quer fazer direito. Como uma máquina? Que seja, mas ele sabe que ser gentil não é forjar ser seu melhor amigo durante três cervejas, é respeitar o espaço do moço que freqüenta seu bar todas as sextas-feiras à noite.