domingo, 18 de janeiro de 2009

meu diarinho de guardanapo no trem belga

"Meu dia ainda não deve ter acordado direito às 8 da manhã com um frio de -17 graus numa cidade cinza dentro de um trem. E os demais passageiros parecem estar com tanta saudade das suas camas quanto eu do meu nórdico salmantino de plumas de pato branco.

Uma menininha
de 3 anos (suponho), cabelo branco (isso está além de loiro), casaco-gorro-luva-vestido-meia-sapatilha-e-bochechas cor-de-rosa deve ter notado meu indisfarçável tédio aqui dentro e está querendo arrancar alguma reação de mim. Impossível não conseguir. A coisa mais fofa do mundo cantando musiquinhas indecifráveis em flamengo. É muito engraçado uma coisinha tão pequenininha e com uma vozinha tão doce saber pronunciar tão bem esses sons estranhos desse idioma estranho. Ela pensa que eu tô entendendo tudo. 'Sberg?', perguntou. Eu sorri. E ela respondeu: 'Monamonamona', cantarolando e balançando os fiapinhos loiros na cabeça. Facílima a comunicação."

O espaço no guardanapo acabou e eu não escrevi mais nada. E ela tomou da minha mão, junto com a caneta, e rasgou sem querer. E ficou preocupadíssima com o rasgão que fez no papelzinho que deveria servir para eu assoar meu nariz. E ficou tentando juntar as duas partes rasgadas. E buscou ajuda com a mãe, que sorriu e me pediu desculpas pelo acidente com o guardanapinho.